POSIÇÃO DAS ENTIDADES DE ARQUITETURA E URBANISMO DIANTE DAS NOVAS REGRAS PARA CONCESSÃO DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

O Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC) é fundamental na formação de futuros pesquisadores e contribui significativamente para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia brasileiras. A interlocução entre os vários campos do conhecimento tem mostrado sua relevância principalmente em momentos de urgência, como a crise sanitária sem precedentes da COVID-19. A decisão do governo federal de limitar a concessão de bolsas de pesquisa apenas àquelas vinculadas ao desenvolvimento de tecnologias consideradas prioritárias é um equívoco sem tamanho.

As chamadas ciências sociais e humanas trabalham lado a lado com as chamadas ciências exatas e biológicas no intuito de conhecer a realidade e atuar sobre ela. Para que o país possa se desenvolver econômica, cultural e socialmente, é preciso um corpo de pesquisadores com uma formação tão sólida quanto diversa. Só teremos um futuro generoso se os jovens de hoje puderem se dedicar, igualmente e de forma integrada, às ciências exatas e da terra, às ciências biológicas, às engenharias, às ciências da saúde, às ciências sociais, às ciências humanas, à linguística, às letras e às artes.

As sucessivas catástrofes têm mostrado claramente a importância da compreensão dos processos sociais e dos modos de vida, e além do papel preponderante da educação na sobrevivência das pessoas, sua relevância para a democracia, o desenvolvimento econômico e a cultura.

A interrupção das bolsas de pesquisa nessas áreas significará a interrupção da formação de milhares de futuros pesquisadores e técnicos, com impactos imensuráveis na qualidade do desenvolvimento científico do país.

No campo da Arquitetura e do Urbanismo, a restrição alcançará projetos de pesquisa sobre infraestrutura urbana, condições sanitárias, melhoria das habitações, uso dos espaços públicos, mobilidade, relações sociais e de trabalho, entre outros, fundamentais para criarmos estratégias para um novo amanhã, em especial, para o nosso futuro pós-COVID-19.

As universidades públicas, que tem desenvolvido um trabalho exemplar para o desenvolvimento nacional, contribuindo amplamente em tempos de pandemia, serão duramente afetadas.

Diante de tudo isso, as entidades nacionais de arquitetura e urbanismo manifestam-se contrárias aos critérios estabelecidos pelo CNPq para a distribuição de bolsas de iniciação científica e a critérios de alocação de verbas que não levem em conta a interdisciplinaridade necessária ao futuro do Brasil como nação democrática e soberana. Defendem, assim, a aplicação isonômica dos investimentos em pesquisa, fundamento que sempre guiou as agências de fomento no país e que é essencial para o avanço da ciência e da cultura nacionais.

 

Brasil, 03 de maio de 2020

Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo – ABEA

Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas – ABAP

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo – Anparq

Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB

Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas – FNA