Italo Campofiorito (à esquerda) e Le Corbusier, aeroporto de Brasília, 1962 (Fonte: O Globo)

Inauguração da exposição Claudio Valério Teixeira 1978 Desenhos. Museu Nacional de Belas Artes, 2011 (fonte:site claudiovalerioteixeira.com.br)

Homenagem a Ítalo Campofiorito

A Comissão de Patrimônio Cultural do IAB-RJ lamenta a perda do grande arquiteto Ítalo Campofiorito e presta esta homenagem singela. Sua trajetória profissional é de enorme importância para o campo do patrimônio e da arquitetura moderna como bem expressam os colegas e amigos que o conhecerem. A palavra está com eles!

Ontem, Ítalo Campofiorito completou 87 anos. Hoje, Italo se foi. Perdemos um arquiteto excepcional, um mestre. Lamentamos profundamente. Sua trajetória ímpar inspirou gerações de arquitetos. Além de arquiteto, ou justamente, por sê-lo, foi também crítico de arte; professor da UnB (anos 1960); presidente do IPHAN (anos 1980), quando assinou o tombamento de Brasília; diretor executivo do MAC (1996-2004); Diretor-geral do INEPAC (1983/1985) quando foram feitos alguns dos tombamentos mais emblemáticos do órgão (Bondes de Santa Teresa, Pedra do Sal e Trechos do Litoral Fluminense); membro do Conselho Consultivo do IPHAN, do Conselho Municipal de Tombamento de Niterói e do Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro. Autor de vários livros e artigos, sendo o mais recente “Olhares sobre o Moderno”.  Mas, talvez, mais importante do que relacionar os inúmeros projetos realizados e os cargos assumidos ao longo da vida, sejam as entrelinhas: as sólidas relações pessoais e profissionais que marcaram a existência deste arquiteto inquieto. Algo que não cabe nos currículos acadêmicos.

A história de Ítalo começa em Paris, em 1933, quando seus pais, Hilda e Quirino, ambos artistas, desfrutavam a temporada parisiense ganha pelo pai na Itália. Quirino, que mais tarde se tornaria professor da Escola de Belas Artes/ UFRJ, era filho do arquiteto italiano Pedro Campofiorito. Italo trazia com ele esta vivência de cidadão do mundo. Ítalo se forma pela Faculdade Nacional de Arquitetura (FNA/UB), em 1956. Um momento em que arquitetos e engenheiros experimentavam a aventura de construir Brasília. E lá foi Ítalo viver o sonho de sua geração, como professor da recém-construída UnB. Amizade com Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Jayme Zettel, Glauco Campelo, Darcy Ribeiro, entre tantos outros, renderam parcerias importantes e histórias incríveis. Tantas que não cabem neste texto de abertura para os depoimentos daqueles que o conheciam e amavam. Italo, ele mesmo, era um ícone e um patrimônio da nossa arquitetura e urbanismo.

Andréa de Lacerda Pessôa Borde, professora PROURB/ FAU/UFRJ

Trata-se de uma perda lamentável para o patrimônio, para a arquitetura e para a cultura brasileira. Tive a oportunidade de ter aula com Ítalo, em um projeto de formação generalista para arquitetos que tocava entusiasticamente com Oscar Niemeyer e convidados como Ferreira Goulart, José Carlos Sussekind e Emir Sader. Atravessar esse momento complicado para o patrimônio se torna um desafio ainda maior sem sua presença, que nos fará falta. Que seu espírito nos guie neste momento de resistência.

Igor de Vetyemy, co-presidente do IAB-RJ.

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É com tristeza que recebo a notícia da perda do Ítalo Campofiorito, por reconhecê-lo sempre como um farol guiando os arquitetos nos desafios da proteção ao Patrimônio Cultural. Tive a oportunidade de conhecê-lo na década de 1990, quando ele era Secretário de Cultura de Niterói, quando trabalhei na criação das APAUs, pela Secretaria de Urbanismo, junto à brilhante equipe dele da Secretaria de Cultura. Foram áureos tempos de se pensar e gerir a cidade e o patrimônio urbano, de forma inovadora, em Niterói, orquestrado pelo saudoso Arquiteto e Prefeito João Sampaio, professor da EAU/UFF.  Reencontrei Ítalo no Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, onde enfaticamente defendeu o patrimônio carioca. Cada conversa com o Ítalo era sempre uma aula. Ítalo escreveu “Muda o mundo do Patrimônio”, entre inúmeros artigos e livros. Hoje o mundo do Patrimônio no Brasil amanheceu mais triste. Estamos de luto e vamos à luta em prol do patrimônio, para honrar os caminhos traçados por Ítalo Campofiorito, entre outros Mestres.

Andréa da Rosa Sampaio, professora da EAU/PPGAU UFF

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Lamento a perda deste Ícone da cultura, arquitetura e patrimônio, com mostra a bela imagem com um plano, desenho, e a outra com seus colegas. Na minha formação na UFF e como estagiário na prefeitura de Niterói estive perto dele, onde sempre foi presente e ativo, meus sentimentos a sua família e amigos.

Jorge Astorga, Arquiteto e Urbanista, Professor do PROARQ FAU UFRJ

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Hoje estamos de luto pela lacuna que Ítalo Campofiorito deixa no mundo do patrimônio, mas tive a satisfação de conhecê-lo quando no início dos anos 1990 idealizávamos o Plano Diretor de Niterói, que já nasceu contemplando a proteção de tecidos históricos. Ele como Secretário de Cultura a frente de uma equipe, pequena em número e grande nas ideias, dinamizaram a nascente proteção do patrimônio na cidade. Nós, na equipe de urbanismo, do saudoso João Sampaio aprendemos com Ítalo e sua turma a pensar cidades que respeitassem  e incorporassem seu patrimônio cultural ao planejamento urbano, e assim nasceram as  áreas de proteção nos antigos bairros, tão caras a Ítalo. Naquele e nos tempos que se seguiram, quando ambos atuamos no Conselho de Patrimônio do município, pude assistir e admirar a eloquência com que defendia o patrimônio. Sem dúvida, Niterói e seu patrimônio cultural devem muito a Ítalo Campofiorito.

Lúcia Borges, arquiteta e urbanista representante do IAB no Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio de Niterói e integrante do Fórum de Patrimônio do CAU/RJ. 

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Recebi, agora, está triste notícia. O valor profissional de Ítalo Campofiorito é de amplo conhecimento, principalmente nosso, ligados que somos aos valores do Patrimônio Cultural. Trabalhamos próximos, no IPHAN, de que foi dirigente, assim como no CET – INEPAC, de que  participava como Conselheiro. Era um amigo muito querido, choro sua perda.

Dora Alcântara, arquiteta e urbanista, professora aposentada da FAU/UFRJ, arquiteta aposentada do IPHAN, Conselheira no CET/INEPAC, Conselheira IAB RJ

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Aproveito também para manifestar minha grande tristeza pelo falecimento do querido Ítalo Campofiorito. Além de sua relevante atuação no IPHAN, o Ítalo esteve à frente da construção do INEPAC. Tive a oportunidade de trabalhar com ele quando foi secretário municipal de cultura de Niterói. Mais tarde, reencontrei-o no INEPAC, no período em que ele compôs o Conselho Estadual de Tombamento.

Cristina Monteiro (Maria Cristina), arquiteta do Estado RJ, tendo atuado no INEPAC de 1997 a 2019.

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Lembro com muito carinho dele. Me iniciou no mundo do patrimônio quando comecei a estagiar no INEPAC em 1981. Meu orientador de iniciação científica. Uma das maiores referências do campo do patrimônio edificado brasileiro. Além da sua militância como arquiteto. Vamos sentir muita falta. Especialmente neste momento que estamos vivendo.

Julio Sampaio, Arquiteto e Urbanista, Professor Associado (CAU) e permanente (PPGPACS) da UFRRJ, Conselheiro (Região Sudeste) do ICOMOS Brasil.

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Conheci o professor Italo na Prefeitura de Niterói, em 1991. Eu, muito novo, fazia parte da equipe do Plano Diretor, coordenado pelo arquiteto e professor João Sampaio, que era Secretário de Urbanismo e Meio Ambiente e mais tarde foi prefeito. O Ítalo era secretário de Cultura e era respeitado e admirado por todos. Com uma equipe pequena, que constantemente se reunia conosco, mapeou todos os imóveis de interesse de preservação do município e delimitou as três Áreas de Preservação do Ambiente Urbano de NIterói: Centro, Ponta d’Áreia e São Domingos, Gragoatá e Boa Viagem. Quase trinta anos depois, os niteroienses valorizam e lutam pela preservação e o respeito às APA-U, uma grande contribuição do Professor Ítalo para a cidade. Aprendemos muito com ele e sua equipe, cada reunião era uma aula, que contribuiu muito para a nossa formação e nossa atuação! 

Luis Fernando Valverde, Arquiteto e Urbanista, Conselheiro Superior do IAB.

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Quando Ítalo foi para o Iphan em 1987, me chamou para trabalhar com ele. Permaneci trabalhando com ele até sua aposentadoria no Iphan. Ele buscou me ensinar coisas o tempo todo e muitas vezes conseguiu. Era antes de tudo um professor. Também era um criador de oportunidades para os mais jovens e foi uma das figuras mais importantes da reformulação do pensar e atuar no patrimônio no Brasil, sempre no sentido da democratização do patrimônio . Pensador, professor, político, um intelectual completo. Deixa uma enorme contribuição ao Brasil, que se hoje já alcança reconhecimento, será ainda mais reconhecida com o passar dos anos.

Leonardo Mesentier, professor da EAU/PPGAU UFF

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Ítalo Campofiorito era um cidadão admirável, um arquiteto como poucos, e que atuava nas questões da cultura, da cidade e do patrimônio em escalas diferenciadas que traziam a sua leitura de homem do mundo, culto e profundo. Seu discurso era claro e objetivo, porque seu pensamento era assim, essa a impressão que sempre tive apesar de meu pouco contato direto com ele. Mas sempre tive sob os “meus olhos” e acompanhei muitos de seus passos através da materialização de suas ações no campo do patrimônio e da cultura, e também pelas palavras de alguns professores e amigos muito próximos a ele. Ítalo deixa saudades, mas também a esperança e ensinamentos que estão em muitos de nós.

Noemia Barradas, arquiteta e urbanista, Conselheira CAU/RJ, Conselheira IAB/RJ, e integrante do Fórum de Patrimônio do CAU/RJ

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Conheci Italo Campofiorito em 1983 quando fui entrevistá-lo sobre o INEPAC para um jornal da FAU-UFRJ. Fiquei fascinado por sua inteligência e erudição, ficamos amigos.  Naquele mesmo ano, convocado por ele,  me vi envolvido numa pesquisa sobre a história das restaurações do IPHAN, que resultou no seu artigo na Revista do Brasil, “Muda o mundo do Patrimônio”.  Voltaria a trabalhar com ele na organização do número 26 da Revista do Patrimônio e no Conselho de Patrimônio do Município do Rio de Janeiro. Além destas experiências de trabalho, tive a oportunidade de desfrutar, graças a nossa amizade, de um enorme aprendizado sobre arquitetura, arte, filosofia e urbanismo.  Italo era um erudito, mas não tinha nada de pedante. Ele aliás me repetiu inúmeras vezes que as coisas essenciais aprendemos lendo romances e vendo filmes.  Personagem da história da arquitetura moderna brasileira a partir de meados dos anos 1950 e da preservação do patrimônio cultural a partir de fins dos anos 1970, ele era um grande contador de histórias.  Os episódios da história da arquitetura moderna e da preservação do patrimônio cultural viravam na narrativa de Italo, contos de Balzac, Proust ou Machado de Assis.  Tudo virava romance da maior qualidade.  Seu nascimento em Paris, porque seu pai, o pintor e membro do Partido Comunista Brasileiro Quirino Campofiorito estava vivendo na Itália com um prêmio de viagem da Academia, e não queria que o filho nascesse num país fascista, decidiu partir com a mulher grávida para a França. A epopeia de Brasília, o convívio com Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Darcy Ribeiro, tudo virava uma narrativa saborosa.  Lamento que a intenção que tive algumas vezes de gravar nossas conversas, nunca tenha realmente se efetivado.  Ainda bem que muitas das suas ideias estão registradas em pareceres, artigos, no seu livro “Olhares sobre o moderno” e no conjunto de crônicas curtas sobre cidade, escritas na década de 1990 num jornal de Niterói. 

Saudades do meu amigo, vou sentir muita falta das nossas conversas.

José Pessoa – Professor da EAU/PPGAU UFF