O Instituto de Arquitetos do Brasil completa neste domingo, 26 de janeiro de 2025, 104 anos de existência. Marco inconteste de resistência e vitalidade, a sua trajetória centenária possibilitou a sucessivas gerações de arquitetas e arquitetos conviverem com transformações, tanto no campo da arquitetura e do urbanismo quanto na cena político-social, econômica e cultural, ocorridas em nosso país.
A mais antiga entidade profissional de arquitetas e arquitetos brasileiros, o IAB, fundado na cidade do Rio de Janeiro então capital federal, reuniu 27 engenheiros-arquitetos na sala de Teoria e História da Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes para formalizar a criação do Instituto Brasileiro de Architectos, elegendo Gastão da Cunha Bahiana como seu primeiro presidente.
Em seus primeiros momentos, a instituição se dedicou à elaboração da tabela de honorários profissionais, à organização da campanha pela realização de concursos públicos de projeto e à divulgação da importância do papel dos arquitetos e urbanistas na produção de espaço habitado no Brasil. Porém, divergências internas levaram à cisão do grupo fundador e à formação de uma entidade paralela – a Sociedade Central de Arquitetos, mas por pouco tempo. Em 1924, Instituto Brasileiro de Architectos e Sociedade Central de Architectos se unem em uma só entidade, passando a se denominar Instituto Central de Architectos. Uma década mais tarde, em 1934, aprovada a Reforma Estatutária da entidade, surgia então o Instituto de Arquitetos do Brasil, designação mantida até os dias de hoje.
Apesar das inúmeras transformações ocorridas, quer em âmbito interno da Instituição quer na cena maior do país, o IAB manteve-se fiel ao seu ideário sempre na rota da valorização da Arquitetura Brasileira e do exercício profissional do arquiteto urbanista, na afirmação do direito à cidade e à moradia digna, regidos pela função social da propriedade.
Em momentos difíceis, quando a ordem estabelecida a partir do golpe civil-militar de 1964, impunha o silêncio, a perseguição e o medo, o IAB não esmoreceu. Lado a lado com as demais organizações da sociedade civil, sua sede abrigou debates memoráveis em defesa do Estado Democrático de Direito, empunhou a bandeira das Diretas Já, participou e contribuiu na elaboração da Constituição Cidadã de 1988.
Embora avanços tenham sido conquistados e, constatada a presença majoritária de mulheres na nossa profissão, verifica-se que poucas ocupam postos de liderança nos Departamentos Estaduais e na própria Direção Nacional do IAB. Transcorridos quase cem anos de história, só em 2020 o Conselho Superior elegeu a arquiteta e urbanista, Maria Elisa Baptista, como primeira presidente da Direção Nacional (gestão 2020-2023). Por conseguinte, há que se ampliar o espectro da equidade em respeito à diversidade de representação, proporcionando igualdade de oportunidades no acesso aos cargos eletivos da instituição.
Por sua exemplar história de lutas, ao celebrarmos os 104 anos do IAB, reconhecemos a indispensável e inadiável preservação da memória construída, por intermédio da recuperação do acervo do IAB/RJ, com propósito de não só salvaguardar a riqueza do conjunto de seus documentos, mas, sobretudo, disponibilizá-los ao conhecimento da sociedade.
O novo ciclo que ora se inicia, tal como os anteriores, será, não resta dúvida, de muito trabalho em direção à consolidação do já realizado. Mas, vai além das tarefas próprias ao nosso campo de conhecimento. Implica em estar atento às demandas que porventura sobrevenham, decorrentes dos inúmeros desafios impostos pelas mudanças do clima, já presentes. Para tanto, é necessário construir saber novo, reconhecer as conquistas obtidas desdobrando-as alternativas preventivas e corretivas, que ofereçam respostas factíveis aos assentamentos humanos.
O Instituto, em respeito a sua própria história e ao seu comprovado protagonismo, joga papel fundamental não só no debate sobre uma nova agenda urbana, mas, sobretudo, em levar adiante, em retomar as discussões sobre os conteúdos expressos no documento aprovado no COSU de São Paulo, em 2022 – O Ordenamento do Território, os Desafios Ambientais e a Moradia Digna.
Mantida a coerência e fazendo jus aos caminhos percorridos por mais de cem anos de atividades, o IAB ao propugnar pela construção de cidades mais justas e equânimes não pode permitir retrocessos de qualquer natureza, seja no âmbito interno da entidade ou no quadro institucional do país. Para tanto, o Instituto deve priorizar o debate sobre um novo paradigma orientador da sua produção, ancorado no aprofundamento da radicalidade democrática, onde o território comparece como extensão física, ou base geográfica, sobre a qual o Estado exerce a sua Soberania.
Para finalizar, reiteramos o compromisso com os instrumentos fundamentais ao exercício da Democracia plena, viabilizadores de cidades onde todos vivam e não apenas sobrevivam.
Ainda estamos aqui!
Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 2025