Letícia graduou-se em Arquitetura e Urbanismo na antiga Universidade do Brasil, atual UFRJ, em 1957. Ao longo de toda sua trajetória profissional e na vida foi uma árdua defensora do serviço público e da profissão, com atuação de destaque no IAB RJ e na Sociedade dos Engenheiros e Arquiteto do Estado do Rio de Janeiro (Seaerj), que a homenageou com a Medalha Arquiteto Affonso Reidy em 2021.
A carreira de Letícia Hazan na Prefeitura do Rio de Janeiro é marcada por sua atuação firme, ética e tecnicamente sólida em defesa do interesse público e do urbanismo comprometido com a cidade. Ela ingressou no serviço público em 1962, na Superintendência de Urbanização e Saneamento (Sursan), onde se destacou em projetos voltados à habitação popular, levantamento urbano e infraestrutura hospitalar, entre eles, o projeto inicial do Hospital Maternidade Herculano Pinheiro, em Madureira. Em 1968, ampliou sua formação com bolsa de estudos em Paris, na ASTEF (atual ACTIM), participando do Programme de la session d’études techniques de l’urbanisme et de l’aménagement foncier, no IEDES, sob orientação de Celso Furtado.
De volta ao Brasil, atuou nas décadas seguintes em diferentes setores da administração municipal, destacando-se na Secretaria de Obras, onde participou de estudos que originaram o Corredor Cultural e de debates urbanísticos decisivos durante o regime militar. Em 1984, convidada pelo prefeito Marcello Alencar, assumiu a direção do Departamento de Edificações (DED), inovando ao propor uma gestão colegiada com Maria Madalena Saint Martin de Astácio e Lelia Bastos Fraga. À frente do órgão, enfrentou pressões políticas e econômicas, combatendo irregularidades e defendendo a aplicação rigorosa da legislação urbanística. Sua atuação, marcada pela integridade e coragem, teve como símbolo a oposição ao projeto de construção no Morro Dois Irmãos, no Leblon, em defesa do meio ambiente e da preservação da paisagem carioca.
“Mais do que falar da profissional ética, competente e comprometida com uma cidade justa e equilibrada, prefiro lembrar hoje da Letícia alegre e bem-humorada. Uma pessoa querida em todos os momentos, com senso de humor e muito carinho pelos amigos. O IAB sempre foi a segunda casa da família Hazan. Tive a honra de tê-los todos nos conselhos da minha gestão — seja no Conselho Diretor, com Jacques e Letícia sendo aquela luz necessária diante de tantos desafios, seja assessorando o Conselho Administrativo ou nas exposições, com Vera e Valéria conduzindo tudo com a maestria das estéticas”, destacou a ex-presidente e conselheira vitalício do IAB RJ, Dayse Góis
O ex-presidente do IAB RJ, Carlos Fernando Andrade, destacou a relevância de Letícia Hazan tanto para a cidade quanto para o Instituto. Segundo ele, Letícia foi muito mais do que uma arquiteta talentosa, dedicou a carreira ao serviço público e contribuiu de forma decisiva para o urbanismo carioca. “A cidade deve muito à sua atuação como funcionária da prefeitura do Rio de Janeiro. O IAB também a deve muito. Tive a honra e o prazer de ter sido indicado ao prêmio Arquiteto de Ano do IAB RJ por Letícia em 2009. Então, para mim é uma emoção muito grande. Eu sinto uma perda enorme de não termos mais essa colega e amiga querida entre nós”, lamentou Carlos Fernando.
O ex-presidente da Direção Nacional do IAB e conselheiro vitalício do IAB RJ, Sérgio Magalhães, manifestou-se também em solidariedade à família Hazan. “Letícia fazia tudo com convicção e bravura. Salve Letícia Hazan!”, afirmou.
O Departamento expressa profundo pesar pela perda de Letícia e se solidariza com seus familiares, amigos e colegas. Seu legado de integridade, afeto e compromisso com a profissão, o serviço público e a construção de uma cidade mais justa será sempre lembrado.
* Nota escrita com informações do livro “Mulheres e a construção da cidade”, da Prefeitura do Rio de Janeiro