Tomaz Silva/Agência Brasil
Em reforma desde fevereiro de 2019, o Palácio Gustavo Capanema, no Centro do Rio de Janeiro, será reinaugurado no próximo dia 20 de maio. A edificação passará a abrigar unidades de órgãos do Ministério da Cultura (MinC), como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Biblioteca Nacional do Brasil, Casa de Rui Barbosa e a Funarte.
Construído entre 1937 e 1945 para ser a sede do Ministério da Educação e Saúde Pública, o prédio, ícone da arquitetura moderna brasileira, será aberto à população. Com 16 andares, a edificação conta com painéis de Cândido Portinari, jardins de Burle Marx, além de esculturas de Bruno Giorgio, Vera Janacopulus e Celso Antônio.
As obras de conservação e modernização interna totalizaram investimento do governo federal no valor de R$ 84,3 milhões, através do Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), e incluíram a recuperação do mobiliário e dos jardins, conduzida pelo Iphan. As instalações elétricas, sanitárias, hidráulicas e de combate a incêndio, além do sistema de vigilância foram refeitas.
“Não é só memória, mas está direcionado também com o futuro, principalmente, para as novas gerações entenderem a construção, o que significa o modernismo, todos os artistas envolvidos nessa coisa maravilhosa que é o Palácio Capanema. Tem a ver com nossa alma e o futuro do Brasil”, disse a ministra da Cultura, Margareth Menezes, em visita guiada ao prédio na terça-feira, 6 de maio.
Para a presidente do IAB RJ, Marcela Abla, a reinauguração do Palácio Gustavo Capanema é um marco para a cultura brasileira e para a arquitetura mundial. “Trata-se de um patrimônio nacional que sintetiza, de forma notável, os princípios da arquitetura moderna de Le Corbusier, reinterpretados com inteligência e sensibilidade por arquitetos e urbanistas cariocas em nosso território tropical. O edifício é mais do que um ícone, é aula viva de modernismo, onde arte, técnica e paisagem se encontram em perfeita harmonia”, afirma.
A reabertura do antigo MEC, ainda segundo Marcela Abla, celebra a preservação da nossa memória e reafirma a importância da arquitetura como expressão da identidade cultural do Brasil.
Manifesto contra ameaça de venda do Palácio Capanema
Em janeiro de 2021, o governo federal publicou a Lei nº 14.011 que flexibilizava exigências para alienação de imóveis da União e elaborou cronograma de “feirões de imóveis” nas principais capitais brasileiras. O poder Executivo chegou a elaborar lista com os imóveis aptos à negociação, entre eles o Palácio Gustavo Capanema e o edifício A Noite, que foi sede da Rádio Nacional.
Na ocasião, o IAB RJ, ao lado do CAU/RJ, CAU/BR, SARJ, Abea, ABAP, SEAERJ, entre outras entidades ligadas à arquitetura e urbanismo e ao patrimônio, realizou grande movimentação junto à sociedade civil organizada contra a ação do governo e publicou manifesto “O MEC não pode ser vendido!”. A ação teve grande repercussão na imprensa, mobilizou apoiadores e a venda não foi concretizada.
“O MEC não pode ser vendido porque seu valor é incalculável. Quanto vale um prédio concebido, projetado e construído para ser um símbolo da cultura nacional? O edifício sobre pilotis pousa elegantemente na esplanada com jardins de Roberto Burle Marx e a escultura Juventude de Bruno Giorgio. No térreo, revestido com painéis de azulejos de Candido Portinari, encontram-se as obras de Prometeu e o Abutre de Jacques Lipchitz. Por tudo isso, a sede do ministério passou a ser denominada, na década de 1970, Palácio Cultura”, dizia trecho do manifesto.
Antiga sede do MEC
Projetado para sediar o antigo Ministério de Educação e Saúde, o prédio, inaugurado pelo presidente Getúlio Vargas, é atualmente conhecido como Palácio Gustavo Capanema, em referência ao ministro da Educação da época. O bem, tombado pelo Iphan em 1948, representa o marco da arquitetura moderna em nosso país.
O prédio ocupa área de 27.536 m². Atuaram no projeto de elaboração da edificação arquitetos consagrados como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Jorge Machado Moreira, Carlos Leão e Ernany de Vasconcelos, com base em estudos feitos por Le Corbusier, que esteve no Rio de Janeiro em 1937 especialmente como consultor.
Concebido para ser o símbolo da cultura nacional, o Palácio Capanema utiliza pilotis, possui planta livre e se integra à paisagem, além de refletir a busca por funcionalidade, racionalidade e simplicidade. A lâmina principal do prédio possui a fachada sul totalmente envidraçada, a primeira nestas proporções no mundo. A fachada norte é dotada de um conjunto de brise-soleil horizontais móveis, também, uma novidade para a época.